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VIAGENS DE ANTONIO MIRANDA PELO BRASIL

 

CARNAVAL DO RIO DE JANEIRO
07-02-1986

Começa hoje oficialmente o Carnaval de 1986.
O Rio de Janeiro está engalanado para superar as mais fantásticas previsões de turistas estrangeiros, de toda parte, atraídos pelo dólar forte e o cruzeiro fraco.
A Manchete já começou a sua programação de 200 horas ininterruptas de transmissão ao vivo, de todo o País.
A NBC de Nova Iorque veio com algumas toneladas de equipamentos para o envio de flashes, durante duas horas por dia, para todas as partes dos Estados Unidos da América.
É o terceiro Carnaval no Sambódromo, o primeiro da administração do Saturnino Braga, o novo prefeito, e o espírito folião, autêntico e kitsch, encendia multidões.

Os temas das músicas carnavalescas, com a liberação da censura, falam de F.M.I., inflação, O.R.T.N. e dívida externa, AIDS e a próxima Copa do Mundo de Futebol. Além, é óbvio, dos temas picarescos (como a “mamãe eu quero uma chupeta pra chupar”, do Clóvis Bornay e parceiro) e os sambas-enredos eivados de uma história de manchetes, estereotipia e em partilhas homeopáticas.
Mas Carnaval é isso mesmo. O senso de bom-gosto dos carnavalescos não reza pelas cartilhas ortodoxas. Os grandes bailes continuam a exibir suntuosas fantasias onde há pouco lugar para a renovação e a criatividade, mas muito espaço para as eternas plumas e paetês, sobre um corpo de folião mumificado e deificado  em seu curto reinado de vaidade e alegoria, tão desconfortável quanto deslumbrante.

Que estranha patologia do comportamento humano que faz o carnavalesco suportar uma fantasia que o imobiliza e o impede de um contato físico na festa, mas o torna glorioso em seu pavoneio, em seu desfile diante das câmeras!

“Meu reino por um cavalo”, diria Figueiredo; “meu conforto e a minha liberdade” por um minuto de glória na passarela do Scala, diria Clovis Bornay.
O carnaval é a extroversão total e coletiva. Visto de fora pode até ser bonito mas também pode ser ridículo. Lá dentro do baile, do bloco, do desfile, o homem comum realiza, se libera de suas energias, ganha uma importância cultural inestimável, libera um quanto de sensualismo, de ritualismo, de auto-estima, de non-sense, de alienação libertadora. É a catarse coletiva, auto-consentida, nos limites da tolerância humana. Hedonismo. É a anti-civilização, no sentido em que o carnaval contradiz a ordem, o estabelecido, a norma.
Naturalmente que o Carnaval, da perspectiva do comportamento religioso ou ético, é a licenciosidade, a afloração de nossos instintos, a purgação de nossos sonhos reprimidos, a depuração de nossas fantasias inibidas, a decantação de nossos fluidos e eflúvios sub-humanos e pagãos.

Carnaval como festa dionisíaca, ditirâmbica, com o grande “happening” do ser voltado para o vir-a-ser, do faz de conta, do até-que-poderia ser.  O verdadeiro carnaval, sobretudo o de rua, é anárquico, desorganizado, improvisado, espontâneo.
O Carnaval da Passarela do Samba é a coreografia hollywoodiana do Carnaval projetado para fora, como fantasia visual. O folião marcha mas não apenas samba. Entra na cadência simétrica, no ritmo metrado sem consonância com a mensagem rimada, no ritmo metrado em consonância com a mensagem rimada, com a ginga programada, com as evoluções projetadas.
Não há mistério no Carnaval das Escolas de Samba pois toda a escola é, por essência, um processo de uniformização, de socialização, de padronização.

Na Passarela o que vale é o conjunto, os movimentos em alas e de figurantes. Só por exceção a originalidade do sambista, o malabarismo do pandeirista, a improvisação da porta-bandeira quando são flagrados pela TV, pela objetiva do fotógrafo. Só aí o indivíduo se reinstaura, se restabelece, se enaltece.
A beleza do carnaval dos desfiles está na ordem, na sincronia, nas mis-en-scene  do grupo. É uma beleza do conjunto, uma beleza plural e abrangente.
Outro Carnaval, o verdadeiro carnaval espontâneo, o carnaval da carne e do instinto, da explosão do individualismo, do anonimato das máscaras, das criações pessoais, interdependentes, é o carnaval de rua. Caótico, imprevisível, potencialmente explosivo, sob o espírito das massas, do anonimato, da vivência de nosso personagem pessoal.  Inventado, satirizado mas que é a gente mesmo, o nosso avesso, o nosso outro lado, o nossos outro eu.   

É o carnaval de mini-sketches, da mil interpretações momentâneas, das micro-performances de cada um dos foliões, visto ou não visto, aplaudido ou ignorado.
Aquele carnaval da carne, do beijo, da cachaça, do roçar dos músculos, de suor e compasso, de sofreguidão e exaustão. Até mesmo do ridículo, do escárnio, da auto-flagelação e do desespero.

Um é o carnaval da orquestração, do régisseur, da coreografia, o carnaval-teatral, que recria os mitos e os heróis. O outro é o carnaval avacalhado, sujo, moleque e galhofeiro, demolidor de mitos e gozador das virtudes, criticão e blasfemador, de curtição e deboche.

O Carnaval da passarela é a montagem, a reconstrução alegórica, é a criação coletiva (sob liderança...), sim, sob o comando da imaginação. É para ser visto, julgado, interpretado, aplaudido. Os sambistas são atores, bailarinos, cantores numa ópera de favela, num delírio de grandeza.

O de rua, o do bloco de sujo, do zé-poeira, da zona rural, das pequenas vilas, dos coretos dos subúrbios, das multidões que acompanham as bandinhas improvisadas, os trios-elétricos pobres, os alto-falantes das pracinhas, é o carnaval da plebe, do homem-comum, da criação individual, da catarse, da fuga, da opereta caricata, sem enredo e sem medo, puro folguedo.            
Há o carnaval para ser visto e o carnaval para ser vivido.
O carnaval dos adereços e o carnaval da nudez, o carnaval explícito e o carnaval “explosivo”, exteriorizado, do improviso e do imprevisto, sem rédeas e de pura extroversão...

Carnaval das cores, das cuicas do farfalhar das saias das baianas, das negas-malucas, dos pierrôs e arlequins da tradição importada, dos rituais miscigenados, do estereótipo e dos balangandãs de Carmem Miranda, tipo exportação, tipo consumo e produção.
Há carnaval para todos e os tempos são de liberdade, carestia, gratuidade, alienação e fantasia!!!
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[“Em 1986, o Carnaval do Rio de Janeiro, realizado no Sambódromo, teve a Mangueira como campeã com o enredo "Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia Tem e a Mangueira Também". A Beija-Flor ficou em segundo lugar com "O Mundo É Uma Bola", e o Império Serrano em terceiro com "Eu Quero". O evento também marcou avanços técnicos, como cronometragem eletrônica e melhorias no som.” [Google 1986].


 

 

 
 
 
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